quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O vereador do século 21

O Sebastião era um desses caras que a gente não esquece nunca. Conheci-o em meados da década de 80, quando ele já acumulava três mandatos de vereador numa cidadezinha na fronteira do Rio Grande do Sul. Brizolista fanático e um dos baluartes do trabalhismo, gabava-se (com razão) de conhecer os meandros da política como poucos. Afinal, aprendera a fazer política antes do advento da televisão, de maneira improvisada, falando no ouvido das pessoas. Mas o que mais chamava atenção no Sebastião era seu linguajar. Conseguia dizer coisas inimagináveis nas situações mais inusitadas. E adorava velório. Chegava a procurar as capelas velatórias para se enfiar. – As pessoa nunca esquéci da gente nessas hora – explicava ele, recordista de votos para a Câmara Municipal por duas vezes consecutivas. Entre os vários “balões” dados pelo Tião, um ficou marcado para sempre – narrado com fidelidade por seu inseparável escudeiro e assessor Fioravante Spinelli.
Encerrada a sessão da Câmera (como dizia o Tião), ele e o Fioravante pegaram o velho Corcel quatro portas e saíram a dar voltas pela cidade. Depois de beberem algumas no bar do Zéco decidiram dar uma passadinha em frente ao Cemitério Público para ver se não estava acontecendo algum velório. Acertaram em cheio! O local estava repleto de carros e ônibus. “Velório de gente importante”, pensaram os dois. – Tá pra nóis, vamu lá – ordenou o vereador. Arrumaram um lugarzinho para estacionar o veículo e se enfiaram velório adentro.
Acostumado a esses momentos, o experiente edil já se deslocou em direção ao caixão, rodeado de homens e mulheres chorosos, enquanto o Fioravante se informava sobre quem era o defunto. Com semblante carregado e para fazer média com a família, o Tião foi lascando de primeira: - Coitado, teve uma morte tão prematura...
Mal disse a primeira frase e o assessor, sabendo que o morto tinha 93 anos, tentou logo remendar: - prematura, vereador?!
Pensando que havia errado na gramática, o Tião saiu-se com essa:
- Quer dizer, premátura...
Os freqüentadores do velório não contiveram o riso.