tag:blogger.com,1999:blog-55810110390095467712024-03-12T18:24:01.782-07:00O segredo das coisasClaudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.comBlogger35125tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-78150401702183788552011-01-17T08:23:00.000-08:002011-01-17T08:23:30.538-08:00Entre sombras e mocinhos<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Minha mãe foi uma contadora de histórias de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">mão cheia</i>. Dizem que puxei a ela. O irmão caçula, advogado e PM, até me chama de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Forrest Gump...</i> Não sei se é elogio ou apenas o seu jeitão de polícia mesmo que não gosta de muita <i style="mso-bidi-font-style: normal;">estória</i>. A verdade é que desde criança li muito. Toda coleção de livros de faroeste do pai. As histórias eram muito parecidas, a começar pela descrição do “mocinho” – ombros largos, olhos acinzentados, beirando os dois metros de estatura – mas eu as devorava.</span></div><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Uma vez, num encontro de família, e sem televisão – que na época era <i style="mso-bidi-font-style: normal;">coisa de rico</i> – minha mãe e nossas tias mandaram que fôssemos pra cama logo depois da janta que elas queriam conversar <i style="mso-bidi-font-style: normal;">coisa de</i> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">gente grande</i>. A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">cama </i>eram alguns colchões distribuídos pelo chão de um dos quartos para acomodar eu e meus primos. Como protesto, fizemos uma guerra de travesseiros daquelas. Em represália, uma tremenda bronca e a indiscutível ordem de apagar a luz, dada com uma cinta na mão.</span></div><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Fiquei quieto. Tinha um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">livrinho</i>... Acendi uma vela e me deliciei com <i style="mso-bidi-font-style: normal;">M. L. Estefania</i>, meu autor predileto naquele tempo. Devorei, no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">lusco fusco</i>, as 126 páginas de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Estranho forasteiro</i>. A leitura quase no escuro iluminava a imaginação. – Teus olhos vão sentir quando fores adulto! – muito me alertou a mãe. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Entrava por um ouvido e saía pelo outro</i>. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Aqueles <i style="mso-bidi-font-style: normal;">bolsilivros</i> marcaram a minha vida. Ler no banheiro fez com que adquirisse hemorróidas, hoje sob controle... Ler a luz de velas, que há anos usasse óculos para conseguir ler. Por que não escutei os conselhos da mãe? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div></span></span>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-46159825703397249092011-01-05T08:16:00.000-08:002011-01-08T11:29:52.971-08:00Operários e comunas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdufkFwHImDYm3qbpIOADe-tnmJ1jOoRZQkYu6VTBm-FMH-x_GySKy88hbAqZvRFiKfcyRzP0L7xd2ih9ox1izoBVVGMVZBl8fjDKAwgcRDooB7x-jDdRpfpFXYOGq0y1OAwdrb5hafOI/s1600/comunas.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" n4="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdufkFwHImDYm3qbpIOADe-tnmJ1jOoRZQkYu6VTBm-FMH-x_GySKy88hbAqZvRFiKfcyRzP0L7xd2ih9ox1izoBVVGMVZBl8fjDKAwgcRDooB7x-jDdRpfpFXYOGq0y1OAwdrb5hafOI/s1600/comunas.jpg" /></a></div><div style="text-align: justify;"> <span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;">A posse da primeira mulher presidente me emocionou. Assisti na cama, rodeado pelos cachorros que dormiram o tempo todo. Depois de um operário o Brasil elegeu uma mulher... Meu pai não acreditaria! Brizolista <i style="mso-bidi-font-style: normal;">roxo</i>, partiu sem ver algumas mudanças que sempre defendeu. Nem o “sapo barbudo” governar com a maior aprovação da história. Era assim que ele chamava o Lula. E uma mulher no governo então? Nem em seus maiores sonhos deve ter passado.</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"></span><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;"> A lembrança do meu pai comunista voltou quando a Dilma recordou os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">antigos companheiros</i> e quase foi <span style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">às</span> lágrimas. Cheguei a fazer beicinho também. Na cabeça <i style="mso-bidi-font-style: normal;">flash backs </i>de algumas frases de meu pai. – Esse cara é só conversa – esbravejava cada vez que o Lula falava algo no rádio ou na tv. – Só o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Brizola</i> pra mudar tudo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">isso</i> – logo após ouvir alguma notícia sobre corrupção. Chamava os políticos de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">vendilhões do templo</i>. Meu pai era sábio.</span></span></div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-28918531403742434822010-12-26T16:12:00.000-08:002010-12-26T16:12:56.730-08:00Presentes e lembranças <span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Estudava no Grupo Escolar Joaquim Assunção (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">entra burro e sai ladrão, </i>como dizíamos de sacanagem) e morava em Pelotas. Era 1969. Meu saudoso pai, preso político, estava em liberdade, mas havia sido dado como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">morto</i>. Não existia oficialmente. E não conseguia emprego formal graças a uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">lista negra</i> distribuída pelo governo para evitar a contratação dos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">subversivos </i>– nome dado aos comunistas naquela época. Eu era um guri de nove anos que sonhava em ser jogador de futebol. – Primeiro os estudos – alertava o pai, sempre lendo algo ou fazendo palavras cruzadas. – Ele é inteligente, vai conseguir – ajudava a mãe. Era <i style="mso-bidi-font-style: normal;">chegado</i> dela. O pai trabalhava de taxista toda madrugada. Dormi na cama da mãe até meu irmão nascer. Supria em parte a falta do pai.</span><br />
<span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Lembro que a mãe se arrumava toda pra ir ao banco receber a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pensão de viúva</i>.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>Eu ia a tiracolo. Depois que pegava o dinheiro sempre me levava pra comer um lanche. Uma vez, grávida de meu irmão caçula, ao ser chamada pra receber a tal pensão, mostrou a barriga pro caixa do banco. – Aqui! A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">viúva do marido vivo</i> – disse em voz alta. Era sua forma de protestar contra o regime. Com humor. O pai era inflexível. Tinha lá suas razões. Em 1980, com a anistia, ele teve direito a receber o equivalente a 16 anos de salários atrasados como sargento da PM, cargo que ocupava quando iniciou a Revolução de 64. Correu pro cartório e passou uma procuração pra mãe. – Não vou sujar minhas mãos com esse <i style="mso-bidi-font-style: normal;">dinheiro de sangue</i> – afirmou, convicto.</span></span><br />
<span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> </span></span><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Nossa primeira televisão foi comprada em 24 vezes. Pra ver a chegada do homem na lua. Assistimos desconfiados. A mãe morreu não acreditando. Para ela, os foguetes lançados pra lua serviram apenas pra alterar o clima no planeta. – Não tem mais inverno, verão, primavera e outono – reclamava. Minha primeira bicicleta também foi comprada a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">perder de vista</i>. Era uma Monareta 1970. Lilás, banco com duas molas. Nunca imaginei que ganharia. Estava em casa quando ouvi o barulho de um carro. Olhei e vi uma Kombi com duas geladeiras e uma Monareta na carroceria. O entregador desceu a bicicleta e se dirigiu pro nosso portão. – Teu presente de Natal – gritou a mãe. Andei na Monareta madrugada adentro.</span></span></span><br />
<span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> </span></span></span><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Esse <i style="mso-bidi-font-style: normal;">flash-back </i>me ocorreu depois de comprar a primeira bicicleta pra minha neta de quatro anos. Uma Mormaii, rosa, com cestinha e capacete. Fiquei radiante como em 70. E agradeci por poder realizar o sonho dela bem mais cedo que o meu quando criança. Relembrar aqueles tempos é uma necessidade. Faz bem pra alma. Senti até o cheiro da torrada do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Forno </i>(a lanchonete que íamos depois da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">viúva do marido vivo</i> pegar a pensão). Hoje, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>reconheço o esforço de meus pais ao comprar aquela bicicleta. Mudou minha vida. Depois dela nada era tão longe. Agora, como vovô, minha tarefa é outra: ensinar a netinha a andar sem as rodinhas auxiliares. O sorriso no rosto dela compensa tudo. E consigo perceber o verdadeiro sentido do Natal. </span></span></span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-gZicdSmea66NHu1yF3hOZjneC6N4DXiNz0DSmwhO_z2K9_ofSjntpDuU5cwx1FaNDXcB6_qFH4CNSoOBk7VhMqql9YSGAuciiLnYTVOmhi71l6eKKb2J7HpU7jT7J918paJifp9n5Z8/s1600/para+o+blog.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" n4="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-gZicdSmea66NHu1yF3hOZjneC6N4DXiNz0DSmwhO_z2K9_ofSjntpDuU5cwx1FaNDXcB6_qFH4CNSoOBk7VhMqql9YSGAuciiLnYTVOmhi71l6eKKb2J7HpU7jT7J918paJifp9n5Z8/s1600/para+o+blog.jpg" /></a></div><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></span></span>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-7481965059801712352010-12-24T15:51:00.000-08:002010-12-24T15:55:25.338-08:00As botas do Papai Noel<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLsB5-Vat2x60K5PTV4TobIAla3odNAMqWYUk1rDY52HEoo6HAVH4oZz-5RNkgK_5pqrH5tU29Y4T4LJi1Yd-kCF4FbP9IjZV8JjMQFJVnTXeBZ1mRvCCNU7wis8gxrr5pXbQqO_ffL8U/s1600/091224_220201.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" n4="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLsB5-Vat2x60K5PTV4TobIAla3odNAMqWYUk1rDY52HEoo6HAVH4oZz-5RNkgK_5pqrH5tU29Y4T4LJi1Yd-kCF4FbP9IjZV8JjMQFJVnTXeBZ1mRvCCNU7wis8gxrr5pXbQqO_ffL8U/s320/091224_220201.jpg" width="320" /></a></div><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">Assumi a tarefa de bancar o Papai Noel.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">– É só pra animar as crianças, pobrezinhas... – dizia minha mulher, referindo-se a nossas filhas, de dois e três anos, e a aproximadamente outros quinze meninos e meninas da redondeza.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">– Você é o mais engraçado da família – acrescentava a sogra.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">Voto vencido, e sem outro Papai Noel à vista, coloquei-me à disposição do cargo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">A roupa, confeccionada por minha cunhada, serviu certinho. Dava até pra colocar um travesseiro para aumentar a barriga. A máscara é que me martirizava. Dificultava a respiração e, o pior, os furos não encaixavam com meus olhos. Eu era um Papai Noel praticamente cego! Mas, vamos lá. O que não se faz pelas crianças...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">Cheguei atrasado para a grande noite. Tive que me transformar em Papai Noel que nem o Clark Kent no Super Homem. Estava um calor dos diabos. Pra completar me entregaram um saco de brinquedos que parecia feito de chumbo. Estava todo vestido como o ‘bom velhinho’ quando minha cunhada olhou para meus pés e percebeu que eu vestia tênis.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">– Cadê as botas? – interrogou, preocupada.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">– E eu sei lá de botas... – resmunguei por trás da máscara, com uma voz cavernosa.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">Ela disse que de tênis não daria pra ir, que as crianças iriam notar, etc e tal. Concordei. Afinal, apesar de dar a volta ao mundo entregando brinquedos, nenhum Papai Noel que se preze apareceria na casa de qualquer criança calçando tênis.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">– E agora, o que a gente faz? – perguntei, olhando para o relógio dela.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">– Calma! – gritou, mostrando seu desespero. – A gente dá um jeito...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">Fiquei sozinho na garagem da casa de meu sogro enquanto a cunhada saía. Com certeza, a minha ansiedade era superior a das crianças que aguardavam pela chegada do Papai Noel.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">Tirei a máscara. Estava com sede. Reparei pela fresta da porta que algumas crianças eram retiradas pelas mães do pátio da casa para que não tentassem entrar em meu esconderijo e estragassem a surpresa. Senti vontade de ir ao banheiro. Achei uma garrafa vazia e a transformei em mictório. Ri ao imaginar alguém entrando e flagrando o Papai Noel fazendo xixi numa garrafa de Coca Cola... Minha angústia aumentava.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">A chegada da cunhada acalmou meus nervos. Trazia a solução para nossos problemas. Um velho coturno de meu sogro (militar aposentado) serviria de botas para o Papai Noel da garotada. Fiz o maior esforço para calçá-lo já que o coturno era bem menor que meu pé, mas não me entreguei. A alegria das crianças valia o esforço. – Vai assim mesmo! – disse, encorajado e vendo que faltavam menos de cinco minutos para a minha entrada triunfal.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">À meia-noite em ponto as luzes se apagaram. “Minha deixa”, pensei. Abri a porta da garagem e me dirigi, quase sem enxergar nada, para a porta da casa que dava acesso à sala. Minha cunhada apareceu correndo e ainda me entregou um sino para que eu entrasse badalando aquele troço. – Agora sim – disse ela. – Está completo. Boa sorte. – E saiu rindo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">Os dez metros que separavam a garagem da sala da casa de meu sogro foram vencidos a muito custo. Meus dedos queriam saltar para fora daquele pequeno coturno. Quando dei as primeiras badaladas ouvi uma gritaria. – É o Papai Noel! Ele veio! – gritavam os adultos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">A porta estava encostada. Arrumei a máscara para pelo menos um olho enxergar alguma coisa, estufei o peito e entrei casa adentro. A princípio acho que não agradei muito. A gurizada parecia mais assustada que satisfeita com a visita tão esperada. Não dei bola e fui entrando, arrastando aquele imenso saco e batendo o pesado sino. Meu Papai Noel caminhava que nem o Batoré. Queria sentar, mas não achava uma poltrona vaga. Não me fiz de rogado e falei com uma voz mais grave que a habitual e, com certeza, assustadora:</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">- Papai Noel quer sentar, tá cansado, com sede...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">Imediatamente fui colocado numa poltrona ao lado da árvore de Natal e brindado com um copo dágua.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">– Papai Noel prefere uma cervejinha bem gelada...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">Minha sogra entregou-me um copo de cerveja, não sem antes me atravessar os olhos. Não dei bola e comecei a entregar os brinquedos, todos escritos com o nome das crianças. Antes da entrega eu fazia questão de dar um puxão de orelhas em cada criança, a pedido das mães, o que as deixava satisfeitas. Em dado momento, reparei por um dos buracos da máscara e vi minha filha mais velha, então com três anos, à distância, olhando desconfiada para meus pés.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">Quando chamei seu nome para entregar-lhe o primeiro presente ela veio quase que empurrada. Com aquela voz abafada disse-lhe que tinha que respeitar mais a sua mãe, que não podia maltratar a irmã menor, que devia dormir mais cedo, enfim. Coisas que havia combinado com minha mulher para a ocasião. Ela ouviu tudo sem dizer nada. Pegou o presente e, mal deu o primeiro passo, exclamou: - a bota dele é iguazinha u cutunu du vô...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">Muitos presentes entregues e várias gargalhadas depois, minha sogra, vendo minha aflição – à essa hora eu já não enxergava mais nada e minha filha estava perguntando por mim – disse que eu (o Papai Noel) teria que ir pois ainda tinha que visitar outras casas, cujos meninos e meninas estavam ansiosos. Saí de fininho após o (proposital) apagar das luzes.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New", Courier, monospace;">Reapareci alguns minutos depois, com a certeza do dever cumprido, de cara lavada, bermudas e pés descalços.</span><span style="font-family: 'Verdana','sans-serif'; font-size: 9pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br style="mso-special-character: line-break;" /></span></span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-21522366474717291752010-12-23T16:01:00.000-08:002010-12-25T16:10:59.558-08:00Psicopatas e conspirações<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhU2y5ohyphenhyphendxGOl4kvUPpOWTGLuh9QzraAX8wuJeeNjyhTqv4B01lgbQIY6TEQR8ogrX_eb9Jm-4k0spCpHy79TVxikgfjMZUD0PS0e3rLRtqFtXiFqzaQXunhiyPMnHNpP2bVpPSsM4Eu4/s1600/CAPA+DO+BLOGSPOT+ESSA.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" n4="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhU2y5ohyphenhyphendxGOl4kvUPpOWTGLuh9QzraAX8wuJeeNjyhTqv4B01lgbQIY6TEQR8ogrX_eb9Jm-4k0spCpHy79TVxikgfjMZUD0PS0e3rLRtqFtXiFqzaQXunhiyPMnHNpP2bVpPSsM4Eu4/s320/CAPA+DO+BLOGSPOT+ESSA.jpg" width="213" /></a></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Notebook ao colo, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">viajo</i> pela rede movido pela ansiedade. Leio jornais, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">palpito</i> um pouco no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Comuniquese</i>, vejo emails. Não abro nenhum. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Vou pro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Twitter</i>. Os que sigo estão calados.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Igualmente nada tenho a dizer.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ainda não descobri que mal me aflige. Falo com a De. Ligo pros três filhos. Todos bem. </span><br />
<span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">A chuva não pára. Minha inquietude também. Saio com os cachorros, vou ao mercado. Bebo café e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">emendo</i> uma coca-cola por cima. Entro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">invisível </i>no msn. Três contatos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">on</i>. Nada a ver. Releio o projeto de programa de rádio que fiz a pedido de um figurão. Estou sem <i style="mso-bidi-font-style: normal;">espírito</i> pra mudar alguma coisa... </span><br />
<br />
<span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Desde cedo meu corpo alertava que algo estava diferente. Uma inexplicável sensação de perigo. Com direito a friozinho na barriga e tudo. Recordo as vezes em que senti isso. Estava perto de algo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ruim</i>. Pessoa ou situação. A autoproteção aflora. Ligo <em>pruma</em> fonte. E descubro. Estava certo! </span></span><br />
<br />
<span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Minha mãe dizia que <em>tem gente que</em> <em>não come mas mete o dedo</em>... E tinha razão. Ao longo da vida esbarramos com muitos desses. A sobrinha psicóloga explicaria mais a fundo. Tive a <em>sorte</em> de <em>topar</em> com alguns <em>psicopatas</em> e sair vivo. Nasci mesmo com o bumbum pra lua? Somente o tempo... </span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><em> </em> </div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-88170432498335108902010-12-03T13:57:00.000-08:002010-12-03T14:01:59.499-08:00140 não é o limite<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Opinar, fofocar <i style="mso-bidi-font-style: normal;">y otros</i> agora é <i style="mso-bidi-font-style: normal;">twittar</i>. Escreveu (tc) e ta <i style="mso-bidi-font-style: normal;">lá</i>. Feita a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">lambança</i>. Rápido. Como quase tudo hj, até sentimentos. 140 é o limite.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Essa talvez fosse a primeira abordagem que faria no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">twitter</i> – esse novo veículo de comunicação onde estou debutando – a respeito da correria em nosso mundo cada vez mais virtual. Complicado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">levantar</i> o assunto e passar algum <i style="mso-bidi-font-style: normal;">alerta</i> em no máximo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">140</i> caracteres. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Fiz nos tais 140 na intuição que sempre acompanhou meus dedos. Quase deu. Tive que apertar uma frase com a outra para caberem exatos 140...”</i></span></span></div><div align="justify"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">limite</i> de 140 letras e toques não deve ser visto como tal. Serve para limparmos nossos textos, já que obrigatoriamente nossas opiniões têm que ser escritas. Deixamos de lado adjetivos e substantivos. Podemos ser mais objetivos. E nem precisa usar tanta abreviatura assim. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Nossa! Tem gente que escreve e eu não entendo p... nenhuma. E outros tentam escrever muito rápido e engolem letra. Acho divertido...”</i> </span></div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Pode ser até <i style="mso-bidi-font-style: normal;">preciosismo</i> de minha parte utilizar os 140 toques no teclado que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tenho direito </i>no Twitter, mas vou utilizá-los sempre que achar necessário. São meus, de mais ninguém! <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Tomara que ninguém clone meu twitter. Não vão! Só se forem loucos! Pra qu</i>ê<i style="mso-bidi-font-style: normal;">?! Mas esse mundo ta cheio de psicopata, lobo em pele de cordeiro.”<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i>Não sei o porquê desses pensamentos... Lembrei! Nossa opinião <i style="mso-bidi-font-style: normal;">`controlada`</i></span></span></div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">O controle sobre o tamanho de nossas mensagens virtuais garante a rapidez. Evita também a poluição de nossas mentes. E demais a mais, ninguém agüentaria aqueles chatos de galocha metidos a poeta ou a revolucionários com papo de botequim. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">”Na rádio a gente sempre diz que todo chato adora microfone... A internet não fica atrás. Todo chato tem sempre uma opinião formada, a respeito de tudo. Putz.”</i></span></span></span></div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;"><span style="font-family: 'Tahoma','sans-serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Vou ficando por aqui. Pra leitura não ficar chata. Dizem que todo escritor deve reservar uma surpresa pro final. Também tenho a minha. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Não posso esquecer que, apesar da correria atual, nada substitui o contato pessoal; que redes sociais são conseqüência desse mundo corrido, mas reunião com amigos ou familiares têm sabor inigualável.”</i> O mistério? Esse texto possui exatamente mesmo número de toques. Vai contar? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></span></div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-38710158098564663962010-10-14T13:36:00.000-07:002010-10-14T13:36:40.488-07:00O vereador do século 21<div style="text-align: justify;">O Sebastião era um desses caras que a gente não esquece nunca. Conheci-o em meados da década de 80, quando ele já acumulava três mandatos de vereador numa cidadezinha na fronteira do Rio Grande do Sul. Brizolista fanático e um dos baluartes do trabalhismo, gabava-se (com razão) de conhecer os meandros da política como poucos. Afinal, aprendera a fazer política antes do advento da televisão, de maneira improvisada, falando no ouvido das pessoas. Mas o que mais chamava atenção no Sebastião era seu linguajar. Conseguia dizer coisas inimagináveis nas situações mais inusitadas. E adorava velório. Chegava a procurar as capelas velatórias para se enfiar. – As <em>pessoa</em> nunca <em>esquéci</em> da gente nessas <em>hora</em> – explicava ele, recordista de votos para a Câmara Municipal por duas vezes consecutivas. Entre os vários “balões” dados pelo Tião, um ficou marcado para sempre – narrado com fidelidade por seu inseparável escudeiro e assessor Fioravante Spinelli.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">Encerrada a sessão da <em>Câmera</em> (como dizia o Tião), ele e o Fioravante pegaram o velho Corcel quatro portas e saíram a dar voltas pela cidade. Depois de beberem <em>algumas</em> no bar do Zéco decidiram dar uma passadinha em frente ao Cemitério Público para ver se não estava acontecendo algum velório. Acertaram em cheio! O local estava repleto de carros e ônibus. “Velório de gente importante”, pensaram os dois. – Tá pra <em>nóis</em>, <em>vamu</em> lá – ordenou o vereador. Arrumaram um lugarzinho para estacionar o veículo e se enfiaram velório adentro. </div><div style="text-align: justify;">Acostumado a esses momentos, o experiente edil já se deslocou em direção ao caixão, rodeado de homens e mulheres chorosos, enquanto o Fioravante se informava sobre quem era o defunto. Com semblante carregado e para fazer média com a família, o Tião foi lascando de primeira: - Coitado, teve uma morte tão prematura...</div><div style="text-align: justify;">Mal disse a primeira frase e o assessor, sabendo que o morto tinha 93 anos, tentou logo remendar: - prematura, vereador?!</div><div style="text-align: justify;">Pensando que havia errado na gramática, o Tião saiu-se com essa:</div><div style="text-align: justify;">- Quer dizer, <em>premátura</em>...</div><div style="text-align: justify;">Os freqüentadores do velório não contiveram o riso.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-80260956711902221952010-09-23T13:29:00.000-07:002010-09-23T13:29:38.683-07:00Narração inédita<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Entrei no rádio aos 13 anos. E tive o privilégio de trabalhar com alguns pioneiros da radiodifusão de minha cidade. Um deles, o “Turco Musa”, foi o primeiro narrador de corridas de cavalo. Na época em que decidiu transmitir a corrida achavam que ele, além de desbocado, estava louco. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O “hipódromo” era longe da cidade, na verdade uma estrada rural. O povo se espalhava em sua extensão. O equipamento da rádio foi instalado numa arquibancada improvisada próximo da reta de chegada. O Musa no meio do povo, todo nervoso, balançando o corpo como faz até hoje. Dizem as más línguas que o Turco só transmitiu realmente a largada, porque de onde estava só enxergava a poeira que os cavalos levantavam. E ele foi enrolando, enrolando, dizendo que tal cavalo estava na frente seguido por outro, que a corrida estava muito equilibrada etc e tal. Confiava em sua posição privilegiada para narrar com fidelidade pelo menos a chegada.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Cavalos e cavaleiros fizeram a curva para entrar na reta final. E o Musa na arquibancada, com seu microfonão.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- E aí vem eles! Folíparo e Cirineta disputando corpo a corpo, cabeça a cabeça... Uma chegada emocionante. Tudo pode acontecer... – berrava o Turco no meio do povo que, àquela altura, também estava emocionado.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Faltando pouco mais de dez metros a corrida ainda estava indefinida. O Musa firmou bem a visão para ver bem quem ultrapassava a reta de chegada.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Sensacional a primeira corrida de cavalos transmitida por uma rádio do interior gaúcho – repetia o Turco.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Estufou o peito para declarar o vencedor da carreira quando um rapazote levantou na arquibancada e prejudicou sua visão. Os ouvintes escutaram o Turco falar:</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Incrível! Folíparo e Cirineta cabeça a cabeça. Vamos ver quem chega em primeiro. Sai da frente guri filho da puta!!!</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-15729277391357543662010-09-15T12:37:00.000-07:002010-09-15T12:37:50.836-07:00Mais ou menos<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjan9gEjchbXO8Nv3nS88_VsBfes7p1NcabzhQ0uILeVz4YCkc2d0D1eGsw1OzpDBowyTlhrmYTqfd0wDKheFPbDzRWiFmrT2dq1qjfkqERQ-gPvgR0h-uuP86lYJhP-376V-dKCuODcDs/s1600/chicoxavier.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" qx="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjan9gEjchbXO8Nv3nS88_VsBfes7p1NcabzhQ0uILeVz4YCkc2d0D1eGsw1OzpDBowyTlhrmYTqfd0wDKheFPbDzRWiFmrT2dq1qjfkqERQ-gPvgR0h-uuP86lYJhP-376V-dKCuODcDs/s320/chicoxavier.jpg" /></a><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sempre primei pela autenticidade. E já perdi muito por não usar meios-termos. Lembro que minha mãe dizia que <em>Papai do céu não gostava das pessoas mornas</em>. E segui a orientação da Dona Dote à risca. Creio até que exagerei, principalmente na vida profissional. Nunca gostei de fazer de conta que trabalhava, de aceitar governos medíocres, de me consolar com as coisas mais ou menos. Contudo, sempre soube que não era o único a não aceitar as coisas pela metade. A vida ensinou-me que pessoas de grande significância, alguns até considerados como meus ídolos, também compartilhavam dessa opinião.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Chico Xavier, o verdadeiro santo brasileiro, igualmente não se conformava com esses meios-termos. Certa feita, disse com suas sábias palavras, que "a gente pode morar numa casa mais ou menos; numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos”. Mas o que me deixou mais feliz ainda foi saber que o grande médium espírita, assim como eu – um humilde escriba – não concebia que a gente amasse mais ou menos, sonhasse mais ou menos, fosse amigo mais ou menos, namorasse mais ou menos e, principalmente, acreditasse mais ou menos. – Senão – dizia Chico Xavier -, a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos...</span></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><br />
</div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-21384339892206853692010-09-09T12:12:00.000-07:002010-09-09T12:12:57.453-07:00O recado do síndico<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAapoF5579XcKHromIPm0A5VYFDujliRke5Wm1IfJdYddVebVcrR3SQXop3W5MHw52uUkCLkY9duSyG6zcqYD1z8xNCmy1G273NbGuTqsUHr9NCfXRemEmr93PY0DAFu59lM2cSzTXD44/s1600/timmaia.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ox="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAapoF5579XcKHromIPm0A5VYFDujliRke5Wm1IfJdYddVebVcrR3SQXop3W5MHw52uUkCLkY9duSyG6zcqYD1z8xNCmy1G273NbGuTqsUHr9NCfXRemEmr93PY0DAFu59lM2cSzTXD44/s320/timmaia.jpg" /></a><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A velha canção diz que na vida a gente tem que entender que uns nascem pra sofrer enquanto outros riem. E que, para aguentar essa realidade, só mesmo tendo um sonho, azul da cor do mar. O senso de justiça, peculiar a todo jornalista, ainda existe, porém deve estar meio que adormecido. Sem saudosismos, de uns anos para cá foram raras as publicações independentes, que nasceram para tentar mudar as coisas. O capitalismo engoliu o sonho de muita gente. E muita gente boa virou chapa branca. Até o Lula, hoje, é chapa branca...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O inconformismo deu lugar à acomodação. Harold Robbins disse que os sonhos morrem primeiro. E o célebre escritor estava certo. Muita gente boa, parece, deixou de sonhar de uns tempos para cá. Assim como o Tim (o Maia, não o Lopes, que certamente morreu com a chama do inconformismo latente em sua alma). Tim Maia, o Síndico mais famoso do Brasil, há muito já entendera que o mundo é desigual. E pregou sonhos azuis para conviver com as desigualdades.</span></div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-71814396440698433742010-09-02T11:51:00.000-07:002010-09-02T22:31:58.584-07:00Entre breques e solavancos<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Olhando o ônibus lotado, fiquei a imaginar como seria o início de um romance em tais condições.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Desculpe – diz o rapaz timidamente depois de pisar no pé da jovem ao seu lado. – Não consegui evitar. O motorista freiou de repente...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Tudo bem – responde a bela morena olhando para um homem suado e com o braço erguido. – Tem coisa pior que isso...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Você pega sempre essa <em>linha</em>? – anima-se o jovem.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Sempre essa hora. E você?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Também.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Silêncio. O sobe e desce continua. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Pouco depois os dois se olham pelos vidros do coletivo, que atuam como espelhos. Disfarçadamente ele a vê puxar a campainha. Decide saltar também. Quando o ônibus pára ele já está numa das portas de saída, com o pé na rua. Dá uma última olhadinha. Não vê a garota junto à outra porta. Entende na hora que ela apenas acionou a campainha para ajudar alguém. Confere. Lá está ela, espremida entre dois marmanjos, segurando uma sacola. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ela não o tinha perdido de vista. Já trocara três vezes de lugar para continuar olhando em sua direção. Quando puxou a campainha para aquela senhora com um bebê ao colo viu que ele se aprontou para descer também. Chegou a tremer. Achava que ele pararia mais adiante, mais perto da vila onde ela morava. Surpresa. Ele só ficou na porta, não desceu. Resolve dar mais uma olhadinha. Seus olhos se cruzam. Ela sorri. Ele retribui. Sente um friozinho no estômago. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Com licença...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">É o jovem novamente. Reconheceu a sua voz sem que precisasse olhar diretamente para ele. Reúne coragem não sabe de onde e o encara. Nota que ele também está nervoso.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- "Agora eu <em>encosto"</em> – decide-se o rapaz, imaginando mil maneiras de dizer alguma coisa sem que nada concreto lhe viesse à mente. Pensa em lhe passar o telefone da <em>firma</em> onde trabalha, mas desiste. Sabe que não tem tempo a perder. Faltam apenas três paradas para chegar em casa. Arrisca.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Você não é a namorada do <em>Júlio</em> (primeiro nome que lhe vem à cabeça)?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Não. Por quê?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Parecida...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Eu nem tenho namorado – emenda ela, convencida de que se não ajudasse, a conversa iria morrer novamente.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Não tem mesmo? – alegra-se o já não tão tímido rapaz.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Verdade...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O motorista freia novamente. E os dois agradecem mentalmente por ficarem mais juntinhos...</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-28363674880386056792010-08-27T11:16:00.000-07:002010-08-27T11:16:34.585-07:00Menage caboclo<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Resolvi dar um tempo e viver em contato com a natureza. Eu, minha mulher e as filhas escolhemos para morar uma chácara, distante oito quilômetros da cidade. O lugar era lindo, cheio de árvores frutíferas e tinha até um pequeno lago. Um sonho. O verdadeiro repouso de um guerreiro que trabalhava arduamente em três empregos distintos.</span></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- É um desperdício a gente morar num lugar tão amplo e não criar nem um bicho. Quem sabe mais algumas galinhas? – disse, olhando para os quatro hectares à minha disposição, ocupados apenas por dois galos e três galinhas já velhas.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Não quer também uma vaquinha pra gente tirar leite de manhã bem cedo? – ironizou minha mulher. - Não inventa que depois sobra é pra nós – reclamou junto com as duas gurias.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Mas será possível que vocês não entendem...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- O senhor é que não pensa no que fala. Trabalha fora o dia todo... – argumentou a filha mais velha.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Gente, o que é isso? Estou estranhando vocês... Só achei uma pena a gente morar num lugar tão amplo e não aproveitar...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Já não bastam os oito cachorros que a gente tem? – perguntou a filha menor.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Mas umas galinhas, pra gente ter ovos caseiros, não teria por que não criar... – aleguei.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Desde que os cachorros não comam todas...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Tudo certo. Combinamos que eu iria tratar de comprar as tais galinhas. Na verdade o que eu queria mesmo era dar <em>uma força</em> para os dois galos que já estavam na chácara e se dividiam com as três galinhas caipiras. “Pobres bichos, dizem que cada galo dá conta de dez galinhas. Imaginem esses dois infelizes. Por isso é que andam cabisbaixos...”, pensei, com a velha cumplicidade machista.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">No primeiro domingo na nova chácara espalhei pela redondeza que queria comprar umas galinhas <em>botadeiras</em>. Na hora me indicaram o seu Raul, criador de galinhas chamadas de <em>‘peito duplo’</em>. Vendeu-me trinta galinhazinhas e garantiu que em 45 dias elas já estariam prontas para serem abatidas. Concordei, mas nem dei bola. Afinal o que eu queria mesmo era deixar os dois galos numa boa...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Num curto espaço de tempo as galinhas cresceram. E a vida de meus velhos galos mudou radicalmente. Andavam de peito estufado, cantavam por qualquer coisa. À sua maneira eles dividiram as galinhas, mas não dispensaram as “esposas” mais velhas. Fiquei satisfeito como um pai que consegue comprar aquele presente tão desejado por um filho...</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-50430969257500353152010-08-23T12:13:00.000-07:002010-08-23T12:13:54.001-07:00Tico duro<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Aprendi a gostar do rádio com minha mãe, que adorava cantar e teve oportunidade de acompanhar várias rádio-novelas. Ficava encantado com as histórias que ela contava sobre esse fantástico e ágil veículo de comunicação. Uma das histórias mais pitorescas envolvendo radialistas teria ocorrido na minha terra natal, na fronteira gaúcha com o Uruguai. “No tempo do rádio a manivela”, como brincava mamãe.</span></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Um narrador esportivo muito conhecido foi protagonista de uma situação hilária. Tarde de domingo, estádio lotado. Iriam se enfrentar os maiores rivais da cidade. O clássico Baguá (Bagé e Guarani), que movimenta multidões até hoje. Nos anos 50, então, quase toda a cidade ia ao estádio.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A esperança de gols do Guarani era o centroavante Tico, que andara jogando até no México. Um <em>“cracaço”</em> como dizia toda hora o narrador da única rádio da época. Minha mãe acompanhou o clássico pelo rádio e disse que o jogo foi tenso desde o início. Lá pelos 30 minutos, o Tico recebeu um passe e <em>entrou com bola e tudo</em> na rede adversária. A torcida explodiu de alegria, mas o árbitro anulou o gol.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Mas o que que ele deu,<em> Fulano</em>? – perguntou o narrador ao repórter de campo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Impedimento, <em>Beltrano</em>. Ele anulou o gol porque <em>o Tico estava na frente do zagueiro</em>...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Nesse momento já se armara o maior bafafá. Sentindo-se prejudicado, o time do Guarani correra pra cima do juiz. O mais exaltado de todos era o Tico. O centroavante reclamou tão acintosamente que recebeu o cartão vermelho.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O narrador, excitado com a confusão, transmitia aos ouvintes os detalhes.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Agora é que a coisa complicou... O juiz <em>botou o Tico pra fora</em>, mas <em>o Tico endureceu</em> e não quer sair... O juiz tenta, tenta, mas não consegue <em>botar o Tico pra fora</em>...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Ele chamou a Polícia, <em>Beltrano</em> – informou o repórter.<br />
E o radialista continuava descrevendo o que ocorria no campo, com a sua narração dúbia.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- É um drama, senhoras e senhores. O juiz agora chamou a Polícia Militar e mandou os policiais <em>botarem o Tico pra fora</em>...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mamãe disse-me que não soube o resultado daquele clássico porque meu avô, ouvindo aquilo tudo, correu com ela pro quarto. Afinal, futebol, naquela época, era mesmo coisa pra homem. Pra quem tinha tico...</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-84117660028264811032010-08-16T10:08:00.000-07:002010-08-16T10:08:32.437-07:00O fio de cabelo<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O relacionamento ia bem até a descoberta daquele fio de cabelo.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- E esse fio aqui? – interroga a mulher.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Fio? Que fio?</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Este aqui, ó! – berra ela, com o fio longo e loiro entre o indicador e o polegar.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- E eu que vou saber. Sei lá de fio... – retruca ele, impaciente.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Pelo menos da <em>dona</em> do fio você deve lembrar... – alfineta a esposa.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Mas que dona, que fio. Pára com isso, mulher!</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Pronto. Armou-se a maior confusão. E o pior é que ele nem sonhava quem seria a dona daquele (maldito) fio de cabelo. “Bem que ela poderia existir, já que estou me incomodando tanto”, pensou, cabisbaixo.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Isso tá me cheirando a sacanagem. E das grandes – voltou ela a insistir.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Mas que bobagem! Você sabe que eu nem gosto de loiras...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Não gosta, é? E a Silvana?</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Quem?!</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Você ouviu muito bem. <strong>Silvana</strong>, <strong>Silvana</strong> – repetiu a esposa, num pé só.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Não acredito que você ainda lembra da Silvana. A gente ainda era namorado...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Não tenta me enrolar que até hoje eu não engoli aquela história!</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Mas faz mais de vinte anos...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Pra mim é como se tivesse sido ontem. Não esqueço e nunca vou esquecer...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O marido sentiu que era melhor calar. Não sabia nada daquele fio de cabelo, nem tivera nada com a Silvana. “Bem que eu tentei, mas ela...”.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Os pensamentos foram interrompidos pela voz da mulher que, teimosamente, insistia em saber a procedência do tal fio loiro, agora já grudado no espelho com esparadrapo para não se perder, como se fosse a prova do crime.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Dessa vez você não escapa! Te peguei com a boca na botija... – dizia ela em voz alta.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Mas que inferno! Já te disse que não sei nada desse fio de cabelo. Talvez seja de uma das meninas...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Você bem sabe que suas filhas são morenas!</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Não sei mais o que dizer, mulher!</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Então fica quieto. Quem cala consente...</span>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-14431240479772770832010-08-05T10:50:00.000-07:002010-08-05T10:54:42.010-07:00Linha direta<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Alô, é do Presídio?</span> <br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- É...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Eu quero falar com o <em>Beira-Mar</em>...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Quem <em>qué falá cum</em> ele?</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- É o Marcelo Resende...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Da Globo?</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Ai, ai... Não, meu amigo. Do Repórter Cidadão...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- O Beira-Mar <em>ta</em> <em>notra</em> ligação...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Será que ele vai demorar?</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Sei não... Acho que vai. Ele <em>ta</em> falando em espanhol...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Ligação internacional, hein? Era só o que me faltava... Diz pra ele que nós estamos <em>ao vivo</em>...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Eu não <em>sô loco di interrompê u hômi</em>... O senhor não <em>qué falá cum otra</em> pessoa enquanto isso? Serve o <em>maníaco do parque</em>?</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Ele está por aí?</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Não, mas ele tem celular lá no isolamento...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Obrigado, seu guarda. Eu ligo depois...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Seu Marcelo, posso <em>perguntá</em> mais uma coisa?</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Claro, seu guarda. Fique à vontade...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Tudo que a gente <em>tá </em>conversando as <em>pessoa</em> <em>tão</em> ouvindo?</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Lógico. Eu já disse que nós estamos ao vivo...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Posso <em>mandá</em> um alô?</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Pode, vai lá. Fazer o quê?...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Eu queria <em>pedí</em> pra não ligarem mais aqui pra portaria pedindo pra <em>chamá</em> o Beira-Mar. Você sabe, né? Às <em>vez</em> fica chato...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Entendo... Você tem medo de perder o seu emprego...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Não. É que <em>às vez o hômi ta</em> ocupado e pode ficá brabo <em>di sê interrompidu</em>...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Vamos aos nossos comerciais, por favor...</span>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-41266953042816292102010-07-28T21:08:00.000-07:002010-07-28T21:10:45.474-07:00A psicologia da cinta<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><em>Ai, um tapinha não dói, um tapinha não dói, um tapinha não dói...</em> Segundo o governo federal, ao contrário do famoso funk carioca, a partir de agora um tapinha dói sim. Não aquele entre quatro paredes, mas o utilizado normalmente para educar nossos filhos. Pra mim não muda nada. Total, nunca fui de bater nos meus três. Já ameacei, prometi, <em>apavorei</em>. Acho que deu certo. Aprendi com minha mãe, que usava a ‘bainha’ de uma velha adaga de meu pai como cinta para ameaçar eu e meu irmão caçula quando passávamos dos limites. Era a <em>psicologia</em> dela. – Vou pegar minha bainha – anunciava a mãe com o olho atravessado, e a minha teimosia já parava... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Tinha medo daquela bainha. Era de couro, preta, grande e doída. Deixava sua impressão quando pegava mais forte. <em>Incentivava</em> meu respeito pela mãe. Levei algumas bainhadas até descobrir uma saída perfeita para escapar daquela psicologia. Fazia cara de coitadinho, baixava a cabeça e “chorava”... Minha tia Ondina, hoje com 91 anos, dizia que eu não merecia apanhar porque era muito <em>queridinho</em>... Mamãe contestava minha tia e protetora. Para ela, eu era um tremendo <em>artista</em> porque tinha a “lágrima na ponta da pestana”. E ela tinha razão. Aprontei muito. Também pudera, fui caçula por dez anos. Até a chegada de meu irmão Claudio. O guri parecia ligado em 220! Ligeirinho, se tornou amigo daquela bainha.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Tanto eu como meu irmão merecemos todas bainhadas. E amamos muito nossa mãe. A psicologia dela funcionou. Aprendemos a ter limite, coisa rara hoje em dia.</span></div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-79801257061425851722010-07-24T00:16:00.000-07:002010-07-24T00:16:11.468-07:00Freud não explica<div style="text-align: justify;"> <span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Nasci em Bagé, na fronteira gaúcha, terra do <em>Analista</em>, cria do escritor Luis Fernando Veríssimo, que aproveitou o jeitão de meus conterrâneos para imortalizar um psicanalista com métodos pouco convencionais. O Veríssimo inventou. Eu <em>tenho</em> uma sobrinha psicóloga. E de Bagé! Heleninha. Agora <em>doutora Hellena</em>, com dois <em>éles</em>... Será que ela acredita em Numerologia? A <em>Helleninha</em> deve ter uma boa explicação pra isso... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Li alguns livros e artigos sobre psicologia pra não ficar <em>boiando</em> quando conversasse com alguém sobre o assunto. Jornalista é assim mesmo: estuda um pouquinho de cada coisa pra não passar vergonha e poder dar palpite em quase tudo... Minha sobrinha psicóloga diz que sou <em>in</em>-<em>su</em>-<em>por</em>-<em>tá</em>-<em>vel</em> porque acho que entendo mais das loucuras das pessoas que ela. - <em>Bah, tche, tu não te remenda mais</em> – escreveu outro dia com o seu <em>gauchês</em>.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Pra encerrar: de psicólogo e louco todo mundo tem mesmo um pouco. Algum dia vão explicar nossas loucuras? Nem o Freud! Quer um exemplo? Depois de anos, descobri que minhas esquisitices têm nome: TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo. Minha mulher diz que eu pareço o <em>Monk</em>, aquele detetive maluco da tv que tem 312 manias diferentes. Eu tenho <em>só</em> duas... Lavar as mãos toda hora faz até bem. Agora, <em>ter</em> que pisar <em>sempre</em> com o pé direito nas tijoletas pares e com o esquerdo nas ímpares é que complica mais. Principalmente quando <em>não consigo!</em> Acho que mais dia menos dia vou dar um pulinho em Bagé e consultar... </span></div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-14644355762078689602010-07-19T16:40:00.000-07:002010-07-19T16:40:42.678-07:00Vencendo a timidez<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">1979. Atrás das cortinas do <em>Cine Avenida</em> assisto o povo chegar. Todos jovens falando alto. Alguns assoviam para chamar os amigos. Muitos carregam faixas. Meu nervosismo é justificável. De <em>brincadeira</em>, depois de beber umas cervejas, eu e o Renato Azevedo inscrevemos <em>Natureza</em> (uma música politicamente correta para os padrões da época) no <em>Festival Estudantil da Canção de Bagé</em>. E não é que estávamos na final?! Acho que os jurados acharam <em>politicamente incorreto</em> reprová-la e ir contra a platéia, que cantou o refrão desde a primeira vez que nos apresentamos. Claro que ajudei. Antes de subirmos ao palco, fiz questão de distribuir <em>xerox</em> com a letra de nossa melodia.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Alertávamos para a degradação da natureza e os efeitos maléficos que a ação descontrolada do homem traria num futuro breve. <em>“A natureza chooora, respeite essa senhoora; temos que dar um jeiito, depredar não é direiito...”</em> cantávamos emocionados com o coro dos estudantes presentes. Confesso que, hoje, apenas lembro vagamente do refrão e do temor que senti ao pisar naquele palco. Não recordo de quase nada. Ao final, nossa <em>Natureza</em> foi considerada <em>a mais popular</em>. Recebemos um brinde de uma papelaria da cidade e um <em>trofeuzinho</em>, mas valeu a pena. Além do reconhecimento popular, venci a timidez de meus 19 anos, subi num palco e cantei!</span></div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-34308500536216277412010-07-16T00:48:00.000-07:002010-07-16T10:32:37.581-07:00Frias lembranças<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg65ip3D63i6RHSXw-LvCPdtGhPA7J2bFmphDiXmrM9OeSazCM3TkgTdoCcgA3TtXgkQ8SOQQWX-TEmOl0hYlgAyefGwIIb1RqJTcuoBO2tTfbeMI-5hYvoLOerfBtH9cGTgHGtjVk2fOM/s1600/100621_130756.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" hw="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg65ip3D63i6RHSXw-LvCPdtGhPA7J2bFmphDiXmrM9OeSazCM3TkgTdoCcgA3TtXgkQ8SOQQWX-TEmOl0hYlgAyefGwIIb1RqJTcuoBO2tTfbeMI-5hYvoLOerfBtH9cGTgHGtjVk2fOM/s320/100621_130756.jpg" /></a></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Chove e faz muito frio. A temperatura despencou. No sobrado em Caiobá, divido as cobertas com o <em>Luck</em> e o <em>Nino</em>, meus pequineses. No outro quarto, minha mulher assiste tevê só com o nariz de fora. Uma bolsa térmica ajuda aquecer seus pés De vez em quando liga o secador de cabelos embaixo dos cobertores. As pequinesas dela, <em>Mel</em> e <em>Dara</em>, deitadas ao seu lado. Tadinha. Sempre foi friorenta. Também nunca gostei do inverno. Lembro bem o que é enfrentar uma geada na fronteira gaúcha. E o temido <em>vento minuano</em>. Que faz os cachorros andarem encurvados. De <em>renguear cusco</em>, como dizemos por lá. Bate uma saudadezinha. Não do frio! Do <em>minuano</em> nunca vou esquecer pelo resto da vida graças a uma sinusite crônica que ganhei por andar de moto e enfrentar <em>o mais gelado de todos os ventos</em>.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">As lembranças do inverno nos pampas que me invadem são outras. Gostosas, como o arroz <em>carreteiro</em> autêntico, feito na panela de ferro, com banha, charque e água quente. Que fica molhadinho e bem soltinho. Da roda de chimarrão todo santo dia. Pra esquentar as tripas... Sorrio ao recordar outra alternativa para combater o frio naquelas bandas: café com conhaque – dependendo do espírito, conhaque com café! No final dos anos 80 era assim que espantávamos o frio enquanto a capa do jornal do dia seguinte era definida. Servia também como <em>inspiração</em> para uns e outros repórteres concluírem suas matérias. E tinha ainda o monte de roupa que se usava. Era blusa em cima de blusa, moleton, blusão, jaqueta, touca, manta, luva. Sem esquecer o indispensável <em>ceroulão</em> por baixo das calças...</span><br />
<div align="left" style="text-align: justify;"></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Volto para a realidade. O frio aqui no Paraná tá igualzinho aos piores que já enfrentei no Rio Grande. E o aquecimento global??!! Será que tem conhaque em casa?</span><br />
<div align="left" style="text-align: justify;"></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><br />
</div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-73158419051550874412010-07-13T23:47:00.000-07:002010-07-13T23:47:41.016-07:00Trocando as buelas<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Em 1986 mudei para uma cidadezinha na divisa com o Uruguai. Aos poucos fui notando que a proximidade da linha divisória propicia situações atípicas em todos os setores. Muita gente mora num país e trabalha ou estuda em outro. Fui contratado por uma rádio gerenciada por um uruguaio. O editor do jornal rival ao que fui Chefe de Redação também era do outro lado da fronteira. Observei ainda que todo brasileiro acha que entende o espanhol, ou <em>castelhano</em> como dizem por lá. Minha mulher, formada em Educação Física e com larga experiência em recreação, tambem achava que entendia. Estava eufórica com o novo emprego: uma escolinha infantil, que atendia crianças dos dois lados da fronteira. <br />
Pouco antes do início da primeira aula, aparece uma senhora com um menino de uns quatro anos a tiracolo. Foi só ela sair pelo portão que a criança abriu o berreiro. E repetia sem parar: “<em>yo quiero abuela</em>, <em>yo quiero abuela</em>”. Querendo ajudar, minha mulher correu para o seu armário, apanhou uma bola de futebol e se dirigiu ao menino chorão.<br />
– Pronto – disse carinhosamente. – Tá aqui a <em>buela</em>...</span> <span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">– No quiero, yo quiero abuela... – repetia o garotinho.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">– Então pega a <em>buela</em>, vai... – insistiu ela, cheia de paciência.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">– No quiero, no quiero... – dizia o coitado do castelhaninho, banhado em lágrimas.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">– Não é essa a <em>buela</em> que você quer? Quer outra <em>buela</em>? De vôlei, basquete?</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">– No... Yo quiero abuela...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Nesse instante minha mulher, ja perdendo um pouco a calma, olhou para a diretora da escola como a pedir socorro. Foi quando notou que ela estava se contorcendo de tanto rir.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">– O que foi? Não consigo entender que tipo de <em>buela</em> que ele quer... – justificou-se em seu portunhol sofrível.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A diretora respirou fundo e explicou a situação. O garotinho queria a sua <em>avó</em>. Em espanhol, avó é abuela. Já bola é <em>pelota</em>...</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-2055813021885836872010-07-10T13:13:00.000-07:002010-07-10T22:18:50.298-07:00Overdose<div align="justify" class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEio1-W3m1ZWDDEEehsOtA8A8PoU99_8u1nt_7x2eXFqZWxvsjU8kEnW_z7tI2lBUDasRC7CNK17dPciYhqf5fMaQ44hHYola3VmEKihZxHlqtVg0WmX0-pgznbxoCQQCFCQ40zwXZ7zTN8/s1600/Overdose.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" rw="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEio1-W3m1ZWDDEEehsOtA8A8PoU99_8u1nt_7x2eXFqZWxvsjU8kEnW_z7tI2lBUDasRC7CNK17dPciYhqf5fMaQ44hHYola3VmEKihZxHlqtVg0WmX0-pgznbxoCQQCFCQ40zwXZ7zTN8/s320/Overdose.jpg" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O bar estava lotado. Dei alguns dólares para o garçon e consegui uma mesa num canto. Pedi um <em>Schweinsteiger</em> com gelo e me pus a analisar o movimento. Uma morena veio entregar meu drinque balançando sensualmente a sua <em>jabulani</em>. No palco, o Maradona <em>nu</em> cantava `<em>Não chores por mim Argentina`</em> pela quinta vez quase aos berros. Em pé, com cara de poucos amigos, o Dunga segurava uma taça de <em>Sneijder</em>. Ao seu lado o inseparável Jorginho petiscava um <em>Villa</em> acebolado e cheio de pimenta. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Acendi um <em>Eto’o</em> e fiquei pensando na vida enquanto meus olhos percorriam o ambiente. Reparei ao fundo que o ex-goleiro do Flamengo fazia juras eternas para a paraguaia Larissa Riquelme enquanto saboreava um <em>macarrão</em>. Senti vontade de alertar a <em>musa da Copa</em> para não se envolver com o Bruno, mas deixei pra lá. Afinal, uma mulher experiente como a Larissa deve saber cuidar da sua <em>vuvuzela</em>... Voltei os olhos pro palco e quase não acreditei no que vi. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O Maradona havia sido retirado de lá na marra. Agora, Romário e Del Bosque, o <em>sorridente</em> técnico da Espanha, ensaiavam uns passos de <em>funk</em> ao som do DJ <em>Mandela</em>. A alegria tomou conta do local, o que fez com que a segurança, a cargo de Felipe Melo, ficasse alerta. Por um momento, pensei ter avistado o Ronaldo <em>Fenômeno</em> saindo com uns travestis, mas não tive certeza. Também tive que olhar duas vezes para acreditar que o Pelé subia ao palco com a Valeska Popozuda. Era tudo muito confuso...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Pedi outro <em>Schweinsteiger</em> e, encorajado, decidi conversar um pouco com o Miroslav Klose. Nem dei bola ao fato de não saber falar alemão. Pelo jeito, o Klose estava de porre. Ofereci um <em>Ozil</em>, comprimidinho que carregava no bolso para usar caso exagerasse na bebida, e ele aceitou. Em seguida vomitou e foi retirado aos pontapés pela segurança. Quase ninguém viu. Todos olhos estavam voltados para o palco. Cristiano Ronaldo havia se juntado ao funk e dançava a “<em>éguinha pocotó</em>” com a Lacraia!</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Bebi de um gole todo meu <em>Schweinsteiger</em> achando tudo aquilo muito estranho e divertido. Queria participar mais ativamente da festa. “Minha vez”, pensei. Quando ensaiava minha subida triunfal ao palco, o som do funk foi sumindo e dando espaço ao irritante toque do meu celular. A tv ligada me fez cair na real. Estava para começar a semifinal da Copa do Mundo no <em>Planeta Bola</em>. E entendi o motivo de toda aquela loucura... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-13927693067474324262010-07-08T10:16:00.000-07:002010-07-08T10:17:36.032-07:00De olho nas galinhas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEKLvHFgsmybs5Zm24gMh5r_TUp93pO04wLa7iN7WohlHrLg3wsYR2grdmcMwIoO37MPglu5zKsZAJH5cyVSJRWvteTIXvtaVz0Zw2cEf-aqcEbxfiyV_-6a8Rcp3pxut_1VWpUSKA62k/s1600/de+olho+nas+galinhas.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" rw="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEKLvHFgsmybs5Zm24gMh5r_TUp93pO04wLa7iN7WohlHrLg3wsYR2grdmcMwIoO37MPglu5zKsZAJH5cyVSJRWvteTIXvtaVz0Zw2cEf-aqcEbxfiyV_-6a8Rcp3pxut_1VWpUSKA62k/s320/de+olho+nas+galinhas.jpg" /></a></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Vocês compram galinha no mercado? - perguntou meu sogro ao visitar-me pela primeira vez e bisbilhotar as compras que havíamos feito onde não faltaram três frangos congelados.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Claro que sim. Por quê? - retruquei, já imaginando que ele estava pensando em matar alguma de minhas <em>filhas de penas</em>.</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Mas com tanta galinha gorda por aí... - argumentou</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Desconversei. Disse que o que me importava eram os ovos etc e tal. Mas ele não se deu por vencido.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Vocês gostam de jogar dinheiro fora...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Deixei pra lá. Afinal, não ia ficar mais rico ou pobre por comprar frango congelado.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Minhas galinhas são só pra <em>enfeite</em> – brinquei, pra ver se ele entendia de vez.</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E não menti. Criei muita galinha, mas nunca matei ou comi nenhuma delas... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A ideia surgiu quando decidi morar “longe dos problemas”. Estava num estresse daqueles. Trabalhava em quatro lugares ao mesmo tempo. Criar galinhas parecia natural, apesar de ser uma pessoa tipicamente de cidade. Até contratei um empregado para cuidar delas. Quem mais aproveitou foram meus cachorros, que se empanturraram de ovos uma vez ao descobrirem um ninho escondido ao redor de minha chácara em Sant’Ana do Livramento, na fronteira gaúcha com o Uruguai. Apesar dos comentários de meu sogro, todas minhas galinhas morreram mesmo de velhice...</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-22120179516125432312010-07-04T19:37:00.000-07:002010-07-04T19:37:45.011-07:00Já fui um rato<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Minha estréia no rádio foi anônima. Andavam procurando alguém que imitasse o <em>Topo Gigio</em> - um ratinho que fazia muito sucesso na Rede Globo nos anos 70. Meu irmão Claudiran, na época com uns 20 e poucos anos, trabalhava na Rádio Cultura, em Pelotas, e lembrou que eu vivia imitando o Chico Anísio e outros que apareciam na tevê. A princípio relutei. Tinha só 12 anos e muita vergonha... </span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-FzmxHYiHeTRM0rxddqkEVoDkdeSyWlkO_pB9bE6P_ZDa0mOp-QPW6SQbQsqNTI__3Cd5VwL1g40BFPcdNUxrxVz157UHiEltPaG-qcAG3VC3wWD5UCRe_9xv9pisOrHI6C9cZedvNGg/s1600/topo+gigio1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" rw="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-FzmxHYiHeTRM0rxddqkEVoDkdeSyWlkO_pB9bE6P_ZDa0mOp-QPW6SQbQsqNTI__3Cd5VwL1g40BFPcdNUxrxVz157UHiEltPaG-qcAG3VC3wWD5UCRe_9xv9pisOrHI6C9cZedvNGg/s320/topo+gigio1.jpg" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Tudo bem imitar <em>todo mundo</em> em casa, mas num estúdio? E na frente de gente que eu nunca tinha visto antes?! Pedi que me deixassem um gravador com um microfonezinho embutido que eu iria imitar em casa e entregava pra eles depois. Não toparam. Queriam o <em>Topo Gigio</em> lá na rádio. Tentei mais uma vez me safar, mas o olhar atravessado de meu irmão mais velho falou mais alto. Fui meio que empurrado... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O estúdio ficava num prédio histórico. Adorei aquela parafernália toda e a sua magia. Era para eu (o <em>Topo Gigio</em>) falar de uma promoção numa loja de artigos infantis. Fiquei nervoso, principalmente porque o diretor da rádio (e patrão do meu irmão) juntou-se ao bando que entupia o estúdio para me ouvir falando que nem o ratinho da moda. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Coloquei os fones de ouvidos e me ouvi imitando o bicho. Ficou igualzinho! Encorajado, gravei o texto de primeira, inclusive com entonações que considerei fundamentais para a propaganda dar certo e não decepcionar meu irmão. Fui elogiado por todos e convidado a gravar outros comerciais com minhas imitações. O comercial do Topo Gigio foi pro ar, eu não recebi o cachê prometido, mas saí ganhando. Troquei por um emprego na rádio... </span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-89667675532222660682010-07-01T14:51:00.000-07:002010-07-06T14:44:59.199-07:00O arsenal do tarado<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg77XqiAfZr7TDMlB3jafQQSNYLg5pl2NNXhgaLJSNUwag2sgUznF4NUulk3KXHRObup6T-85L2JT6fvnM17kTm-3M4PzI8oQJ2fOtQmQpCz8ddnzHjHfaCZMQAFn_ZDOIKzCFWcY3QYPE/s1600/arsenal.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5489062787730984898" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg77XqiAfZr7TDMlB3jafQQSNYLg5pl2NNXhgaLJSNUwag2sgUznF4NUulk3KXHRObup6T-85L2JT6fvnM17kTm-3M4PzI8oQJ2fOtQmQpCz8ddnzHjHfaCZMQAFn_ZDOIKzCFWcY3QYPE/s200/arsenal.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 179px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 200px;" /></a>A vinheta característica de notícia extraordinária chamou minha atenção. Aumentei o volume do rádio. O comunicador jovem chamava, <em>ao vivo</em>, o repórter policial. Pedi silêncio às minhas filhas que, já há algum tempo, discutiam sobre uns novos passos de Axé. Uma dizia que a saída era para a direita e a outra defendia o contrário. Estavam a ponto de brigarem.<br />
- A <em>Puliça</em> civil prendeu agora há pouco um homem <em>qui tentô atacá </em>uma <em>minina di</em> oito <em>anus</em> – dizia a voz do repórter. – O tarado levou a menor prum matagal <em>i</em> <em>quasi</em> conseguiu <em>concretizá</em> o <em>estrupo</em> – complementou o afobado radialista falando direto da “cena do crime”.<br />
Nesse momento, o locutor do estúdio tentou sutilmente dar uma remendada no vocabulário do <em>repórti</em>.<br />
- Mas, fulano, qual é mesmo o nome do acusado de <strong>estupro</strong>?<br />
- O <em>estrupador</em> – respondeu de pronto – é um vagabundo que atende pela alcunha de Tiozinho. E esse tal de Tiozinho já tem <em>passagi</em> pela <em>Puliça</em> por porte de <em>tóchico</em>...<br />
- Muito bem – reassumiu o comunicador do estúdio com a clara intenção de acabar com aquele besteirol todo. – Estas foram as informações do nosso sempre atento repórter Fulano de Tal...<br />
Mas o repórter não queria parar. Emocionado com o "elogio" voltou à carga:<br />
- E <em>issu</em> não é nada! Na casa do <em>estrupador</em> a <em>Puliça</em> encontrou um verdadeiro <em>arsenal</em> de revista pornográfica e um <em>revólvi calibrio</em> 38...<br />
Não agüentei e desliguei o rádio, sob o protesto de minhas filhas que, àquela altura, estavam adorando o palavreado do repórter.<br />
- Ah, pai... <em>Tava</em> tão divertido... Melhor que o Axé... </div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5581011039009546771.post-23638313990344171682010-06-26T10:09:00.000-07:002010-06-26T11:51:09.440-07:00Profecias e bobagens<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5G_DFzaY5WJAkI5LJ2D6zG5qDGXN6HjbUrdZfA_d_EGJLjTGxvwABSUV_ckhf1FHJzt4Zr6kAkQU6nUfGFyH5C7VH7pppMMLjRBUJBqvQ_gVPHDPl2fhxo6iWXhjCh4wEWYdL8F3H7Tc/s1600/futuro+blogger.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5487156101983114386" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 260px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5G_DFzaY5WJAkI5LJ2D6zG5qDGXN6HjbUrdZfA_d_EGJLjTGxvwABSUV_ckhf1FHJzt4Zr6kAkQU6nUfGFyH5C7VH7pppMMLjRBUJBqvQ_gVPHDPl2fhxo6iWXhjCh4wEWYdL8F3H7Tc/s320/futuro+blogger.jpg" border="0" /></a>Lembro como se fosse hoje. O rádio tocava <em>Feelings</em>, do Morris Albert. Eu e o Nando (Fernando Antonio Silva Folha), meu amigo de todas as horas na adolescência, estávamos no corcel 73 do pai dele quando as profecias do Nostradamus viraram o assunto principal. E caiu a nossa ficha. Se o mundo acabasse mesmo no ano 2000, a gente iria morrer aos 40 anos! Passamos a madrugada toda discutindo o que praticamente seriamos <em>obrigados</em> a fazer para compensar nossa morte prematura...<br />Num papel de pão fizemos uma relação de todas as mulheres que <em>teríamos</em> <em>que pegar</em> e dos lugares que de um jeito ou outro visitaríamos antes de morrer. Queimamos a cabeça também tentando encontrar um jeito de inventar algo inédito, que nos transformasse em milionários. Sabíamos que sem grana tudo que planejássemos ficaria apenas na vontade. Não <em>vinha</em> nada e a nossa situação se agravava. O tempo estava passando e a gente não achava a saída. Quase choramos com nosso triste futuro...<br />Combinamos não desistir (principalmente das mulheres da lista) e dar tempo ao tempo. Fundamental seria não falar mais sobre essas <em>bobagens</em> do Nostradamus e viver intensamente nossa juventude. Claro que não conseguimos <em>comer</em> toda a lista, mas o consolo foi que muita gente boa entrou nela sem que conseguíssemos <em>prever</em>... Com o passar dos anos, eu e meu inseparável amigo tomamos rumos distintos. Raramente nos <em>falamos</em> pelo msn. Assim como eu, o Nando viu o ano 2000 passar e que o mundo (ainda) não acabou. </div>Claudino Nuneshttp://www.blogger.com/profile/13981704180604460010noreply@blogger.com0