sábado, 26 de junho de 2010

Profecias e bobagens

Lembro como se fosse hoje. O rádio tocava Feelings, do Morris Albert. Eu e o Nando (Fernando Antonio Silva Folha), meu amigo de todas as horas na adolescência, estávamos no corcel 73 do pai dele quando as profecias do Nostradamus viraram o assunto principal. E caiu a nossa ficha. Se o mundo acabasse mesmo no ano 2000, a gente iria morrer aos 40 anos! Passamos a madrugada toda discutindo o que praticamente seriamos obrigados a fazer para compensar nossa morte prematura...
Num papel de pão fizemos uma relação de todas as mulheres que teríamos que pegar e dos lugares que de um jeito ou outro visitaríamos antes de morrer. Queimamos a cabeça também tentando encontrar um jeito de inventar algo inédito, que nos transformasse em milionários. Sabíamos que sem grana tudo que planejássemos ficaria apenas na vontade. Não vinha nada e a nossa situação se agravava. O tempo estava passando e a gente não achava a saída. Quase choramos com nosso triste futuro...
Combinamos não desistir (principalmente das mulheres da lista) e dar tempo ao tempo. Fundamental seria não falar mais sobre essas bobagens do Nostradamus e viver intensamente nossa juventude. Claro que não conseguimos comer toda a lista, mas o consolo foi que muita gente boa entrou nela sem que conseguíssemos prever... Com o passar dos anos, eu e meu inseparável amigo tomamos rumos distintos. Raramente nos falamos pelo msn. Assim como eu, o Nando viu o ano 2000 passar e que o mundo (ainda) não acabou.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Profissão Perigo

Corria o ano de 1988. Era o último comício da coligação da qual eu participava como um dos responsáveis pelo marketing do então candidato a prefeito de Sant'Ana do Livramento, Glenio Lemos (PDT). O local escolhido foi a praça Artigas, num dos bairros mais populosos da cidade. Não dava nem pra se mexer de tanta gente que foi para conferir os shows que antecediam o comício. Na época era permitido trazer grandes nomes da música para atrair as pessoas. Meu amigo e compadre, Edis Elgarte - jornalista das antigas - chegou esbaforido carregando uma grande caixa. Eram os foguetes pra soltar quando os candidatos a vice e a prefeito subissem ao palco. Confesso que nunca fui bom com essa história de soltar foguetes, mas decidi improvisar. Tudo pelo candidato...
Lembrei do MacGyver (protagonista de um famoso seriado de tv dos anos 80 e 90 que empresta o nome ao post), juntei dois cabos de vassoura e coloquei os foguetes um ao lado do outro para poupar tempo e ter um retorno melhor. Afinal, vários foguetes estourando ao mesmo tempo fazem muito mais sucesso que um a um. Na primeira tentativa deu tudo certo. Passamos o isqueiro em todos os foguetes e eles dispararam quase na mesma hora. Decidimos repetir a dose, mas um deles deitou e caiu no meio de representantes de um partido que não estava nada satisfeito com o tratamento que o candidato a prefeito estava dando a seus correligionários. Pronto. Era o que faltava, e na véspera da eleição... Deu o maior bafafá. Chegaram a dizer que "era coisa orquestrada", que foi por gosto e a mando do Glenio - um homem temido por andar sempre com uma pistola 7.65 na cintura. Eu, como MacGyver fui um fiasco, mas vencemos - e soltamos muitos foguetes...

terça-feira, 22 de junho de 2010

O dono da voz

A voz ao telefone despertou minha curiosidade. Queria informações sobre uma entrevista que eu fizera no Rede Notícias, programa jornalístico que apresentei por quatro anos na FM Ilha do Mel. Tirei suas dúvidas, sempre atento àquela voz. Ao final, não me contive e perguntei se ele, com aquele timbre maravilhoso, não pensara em trabalhar em rádio. Modestamente, respondeu-me que já havia se aposentado no rádio e que, por muito tempo, fora conhecido como “A Voz”. Desliguei o telefone e fiquei pensando nas centenas de moçoilas que deviam suspirar cada vez que ouviam aquela voz na Difusora. Afinal, Airton Poli trabalhou na época áurea do rádio, quando radialista era que nem artista de cinema ou cantor de pagode hoje em dia.
Chegado há pouco na cidade eu não reconhecera A Voz. Com o passar do tempo, fortalecemos uma amizade que conservei com orgulho. Costumava brincar com ele.
- Com meu peito e com sua voz, o Cid Moreira estaria desempregado há muito tempo...
- Bondade sua – respondia modestamente. – A sua voz também é bonita...
- Mas nem chega perto da sua...
- Não fale assim. Você me deixa encabulado...
- É verdade, Airton. Você nunca pensou em ir para um grande centro?
- Olha, pra falar a verdade, acho que me apaixonei por Paranaguá desde que aqui cheguei.
E era verdade. Natural de Guarapuava fincou raízes na cidade bem novinho e não mais quis sair.
- Rádio já foi minha diversão. Agora são elas – afirmava, entre um cafezinho (com leite) e outro, com os olhos voltados às mulheres que passavam na Faria Sobrinho.
Infelizmente, esse ano, o Dono da Voz nos deixou, aos 75 anos. A foto é de minha coleção particular e foi tirada no Café do Português.

domingo, 20 de junho de 2010

Dez anos de um sonho

Em 1998 fiz uma parceria com o Joel Bonzato, na época ainda atuando na área da zootecnia (jogo do bicho). A ideia: montar um jornal diário. Ele acreditava que Paranaguá merecia um investimento desse porte, mas até nos conhecermos não tivera certeza de que seria possível materializar seu sonho. Levei dois anos para comprar material, treinar equipes e colocar o jornal nas ruas. Foi uma batalha, mas em pouco tempo dominamos o estresse inicial - o próprio Bonzato muito ajudou a encartar jornais nas primeiras semanas. Alta madrugada e estava ele, conferindo a quantas andava a impressão, a cargo do Wilson Magrão e do Pedrinho.
Emagreci vários quilos antes de por a Folha nas bancas. Em 2000 ainda produzia e apresentava o Rede Notícias na Fm Ilha do Mel. Saí e voltei pro jornal umas três vezes. Culpa da minha rebeldia como alegava o Bonzato toda vez que algo me incomodava e eu arrumava minhas trouxas. Sei... Mas a satisfação de conseguir elaborar um jornal diário com uma equipe que nunca havia passado na frente de um jornal valeu todo o esforço. E o nosso jornal como dizia o Bonzato faz hoje parte do cotidiano da cidade. E, aos poucos, vai marcando espaço nos demais municípios litorâneos. Parabéns ao Joel Bonzato e à equipe da Folha do Litoral. O nosso sonho virou realidade.

sábado, 19 de junho de 2010

O ex-futuro homem gol

Quando criança tive a chance de jogar futebol profissionalmente. Verdade. Participei da peneira no Internacional de Porto Alegre, levado pelo Marcos - um ex-namorado de minha tia Gilca. Fiquei escondido no meio de centenas de guris, a maioria bem mais alta e corpulenta que eu. E volta e meia um desses grandalhões era convidado a jogar um pouquinho, pra mostrar se sabia alguma coisa. Isso me irritava e praticamente tirava minha esperança de ser chamado e, quem sabe, me exibir um pouco pra chamar a atenção. Desde aquela época eu já acreditava em propaganda...
Pra piorar, no meio daquela gurizada toda a fim de se tornar craque, não encontrei uma chuteira do tamanho do meu pezinho de anjo. Fui de Kichute – um tênis metido a chuteira, que dava um chulé daqueles... Quanto mais o tempo passava mais eu ficava impaciente. Os caras olhavam pro banco mas só enxergavam os outros! Na arquibancada, o Marcos da Gilca fazia sinais com as mãos para que eu mantivesse a calma. Nessa altura eu já estava com um baita chulé e a fim de ir embora...
pelas tantas, quando havia levantado a fim de catar o meu rumo, alguém deu um chutão pra cima e a bola da peneira veio pro meu lado. Pra me exibir já comecei a fazer embaixadinhas e outras frescuras com a bola e não obedeci ao comando de devolvê-la ao treino. Era tudo ou nada. Afinal, quando eu era criança o Chacrinha vivia dizendo na televisão que quem não se comunicava se trumbicava, então eu tentei fazer o meu comercial. Deu certo e alguém gritou: - deixa esse exibido mostrar se sabe jogar mesmo... Era eu! Entrei. E chamei a atenção no meio daqueles brutamontes – todos com a minha idade, mas criados a Toddy como se dizia naquela época.
A proposta era para morar em Porto Alegre (na real, nos alojamentos do Inter), estudar e receber um salário mínimo por mês. Voltei pra casa - na década de 70 morava em Pelotas -, e comecei a gostar de radio. Até tinha vontade de jogar futebol profissionalmente, mas se fosse pra jogar teria que ser no Grémio, meu time do coração... Naquela época a rivalidade era ainda maior que a hoje no Rio Grande entre gremistas e colorados. Nem camisa vermelha um gremista usava. Imagina jogar no time deles!!!


sexta-feira, 18 de junho de 2010

As aparências enganam mesmo


Na década de 70, o jeans mais usado era o US Top – uma maneira que os brasileiros encontraram de combater as famosas marcas Lee e Lewis. E o slogan da US Top era: “o mundo trata melhor quem se veste bem”. Perfeito. Sintetizava tudo. Afinal, na prática, as pessoas dão mais bola à aparência que à essência.
Há anos, quando conheci o radialista Carlito Rodrigues, soube de uma história interessante. Contou-me o polêmico homem de rádio que, certa feita, quando estava desempregado em Curitiba e procurando trabalho, esbarrou num amigo de infância que não via há muito tempo. O tal amigo estava numa muito boa, tinha se dado bem na vida e se dispôs a ajudá-lo.
De posse de um cartão de visitas dado pelo hoje empresário, o Carlito deixou passar um tempinho e se deslocou até o escritório do tal amigo. Nem deu importância ao fato de estar de jeans e de camiseta. Chegou, apresentou-se à secretária e ela, mal erguendo os olhos, disse-lhe que o “doutor” não poderia receber-lhe naquele dia.
Não satisfeito, o Carlito foi em casa, trocou de roupa, colocou camisa, gravata e retornou. Entre sorrisos, bebeu cafezinho, suco e foi atendido rapidamente pelo amigo de infância. Prova que, definitivamente, quem se veste bem é tratado melhor pela sociedade mesmo. Contudo, além da vestimenta, a primeira impressão é a que fica mesmo.
Outro dia, em Matinhos, peguei uma Pop (pequena moto que comprei pra minha filha Natiele e que não deixei com ela quando decidiu ficar morando no Rio de Janeiro) e me desloquei até um famoso supermercado. Chuviscava e decidi colocar a motinho embaixo da marquise do mercado, lugar que abrigava vários automóveis.
Foi só estacionar que já veio o segurança do mercado, dedo em riste, gritando que não poderia colocar a moto naquele local, que tinha lugar próprio pra motos (longe da entrada do mercado), etc e tal. Retruquei que não via o porquê de não usufruir de um lugar coberto já que era cliente como os outros que chegaram de carro. Quase brigamos.
Achei um desaforo e, após chegar em casa com as compras, peguei minha moto (uma Mirage), voltei ao mercado e estacionei no mesmo lugar aonde havia colocado a motinho de minha filha. Você reclamou? Nem o segurança do mercado...







quinta-feira, 17 de junho de 2010

Os jovens e a política


A pergunta, feita à queima-roupa, tirou-me da leitura e provocou uma reunião, aos moldes da Grande Família.
- Em quem você votou, pai? – interrogou-me a filha de 17 anos.
- Eu? No Lula, é claro.
- Você votou no Lula mesmo?
- Eu sempre votei no Lula...
- Mas você... Não entendo... Deixa pra lá...
- Não, pára aí. Termina o que você começou...
- É que você tava reclamando, parecia que você não gostava dele...
- Eu não gostar do Lula? Olha, minha filha, até emprego eu já perdi por causa do Lula...
- Conta, pai...
- Foi há muito tempo, depois que eu liderei uma passeata de ‘caras pintadas’...
- Que quié isso? – perguntou, num acesso de riso.
Não agüentei e também ri como louco.
- Agora chega – recomecei a conversa. - Por que você acha que eu não gosto do Lula?
- Não senhor! Primeiro você vai me contar essa história de cara pálida...
- Não é pálida. É pintada...
- Então conta, vai...
- ‘Caras pintadas’ eram os jovens que defendiam mais ética na política, queriam mudar as coisas...
- E você andava na rua com a cara pintada? De quê?
Minha mulher, que acompanhava a conversa de longe, gritou:
- De palhaço!
- Que nem você... – retruquei.
- Mãe! Você também?!
- Claro, né? – respondeu ela, juntando-se a nós. – Eu também participei...
Nessa altura, nosso diálogo já se transformara numa reunião familiar. Até a filha menor havia parado de dançar e se interessado.
- O que vocês tão falando? – quis saber, risonha. - O pai trabalhou de palhaço?
- Que palhaço, menina! Onde já se viu? Pega o ônibus andando e ainda quer janela?
- Que ônibus? Nós vamos viajar?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Quem fala a verdade não merece castigo?


Desde que me conheço por gente escuto as pessoas falarem que a verdade deve prevalecer. E, vida afora, venho tentando seguir os conselhos de minha saudosa mãe, mas assim como outros ditos populares, na prática a coisa é bem diferente. Basta olhar pros lados e perceber que a verdade não é assim tão bem vinda em todos os setores.

As pessoas gostam de ser elogiadas - no meio político então chega a dar nojo. A opinião verdadeira é vista como um desaforo, uma afronta ao detentor do poder. O pior é que passei esses ensinamentos a meus filhos e estes, infelizmente, também têm se dado mal por não usarem a tal inteligência emocional e falarem só a verdade...

Quem já não se estrepou por falar o que sentia realmente? O mundo, apesar dos provérbios e ditados, não está preparado para quem só fala o que sente. As pessoas, como já publiquei outro dia, preferem a mentira. Portanto, para a felicidade geral do povo e da nação, viva a hipocrisia!

sábado, 12 de junho de 2010

O ciume na politica

O teclado do meu notebook nao esta funcionando direito - por isso a falta de acentuacao e cedilha em muitas palavras. Nao sei o que houve. Loucuras dessa tecnologia que, apesar da tentativa, corre sempre mais rapido que meu poder de absorcao. Parece samba do crioulo doido, mas vou improvisar e postar assim mesmo pra manter o blog atualizado.
Na politica, assim como na vida, um dos sentimentos mais fortes com que se tem que lidar eh o ciume. O politico costuma demarcar seu territorio, mas sempre estah de olho num terreno maior. Por isso, da mesma forma que quer ampliar seu patrimonio politico, seus adversarios tambem desejam o mesmo. E estah comprovado: soh existe uma maneira de conseguir tal meta - atrair os eleitores dos concorrentes e manter junto de si seus assessores e apoiadores. E aih eh que aparece o ciume, que na maioria das vezes chega a ser doentio.
Comprovei na pratica que o ciume nao se limita aos inimigos. Ele eh mais forte ainda contra aqueles que participam do mesmo partido ou coligacao que, apesar de hoje estarem juntos, tem sonhos de voar mais alto. Mas isso eh assunto pra outro post. Chega por hoje. Meu teclado deve estar com ciumes porque as primeiras postagens fiz de outro computador...rsrs

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Entre causos e mentiras

O escritor Ariano Suassuna, do Auto da Compadecida, disse que a personagem Chicó - um contador de causos que criava histórias apenas para satisfazer um desejo inventivo - realmente existiu, não foi criado de sua imaginação. Narrou que certa feita, quando o povo estava reunido em volta da única praça da cidade, Chicó começou a contar uma grande mentira, quando foi interrompido por uma pessoa que tinha participado do episódio a que ele estava se referindo.
- Não foi nada disso! - havia retrucado o homem no meio do povo - Ele está mentindo!
Chicó não se intimidou e continuou a falação, até que o homem insistiu que queria contar a história verdadeira.
- Vocês querem ouvir a verdade dele ou a minha mentira? - perguntara Chicó para o povo.
- A sua mentira! - responderam todos ao mesmo tempo, sabendo que as histórias inventadas por Chicó sempre eram mais interessantes que as verdades dos fatos reais.
Pois bem. Esse tipo de atitude também aconteceu na cidade em que moro, na Câmara Municipal de Paranaguá. Os servidores da Prefeitura, preocupados com o minguado reajuste enviado ao Legislativo pelo Prefeito, participaram em massa da sessão para tentar "convencer" os vereadores a  aumentarem o reajuste determinado pelo Prefeito.
Ao ouvirem de um vereador (Ricardo) que a Câmara nada poderia fazer, já que reajustar salários é atribuição do Executivo, chegaram às vaias. O vereador insistiu que eles estavam sendo usados por pessoas má intencionadas, por demagogos que sabem que os vereadores não podem alterar para mais os reajustes enviados pelo Prefeito, não convenceu. Os servidores agiram que nem o povo que escutava as mentiras do Chicó e as preferia ao invés da verdade. E estamos no século 21...
Para quem não sabe: demagogo é a pessoa que fala meias-verdades para outras que considera idiotas...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Lavando as mãos

Perto do Sebastião, o Odorico Paraguaçu seria pós-graduado na língua-mãe. Contudo, o linguajar chulo do vereador escondia a sua inteligência aguçada. De bobo ele só tinha a cara. Não raro era protagonista de tiradas fantásticas, registradas nos anais da Câmara Municipal daquela cidadezinha litorânea.
Contam que certa feita, em meio a um caloroso debate – onde se discutia a possibilidade da Prefeitura ajudar financeiramente a Santa Casa – o Tião teria afirmado:
- Nessa questã eu lavo as mão como Herodes...
O interlocutor não deixou por menos, e aproveitou o plenário lotado para tentar ridicularizar o controvertido vereador:
- Vossa Excelência não quis dizer ‘lavo as mãos como Pilatos’?
- Craro que não. Eu disse Herodes. Por quê? – desafiou o Tião.
- Porque quem lavou as mãos foi Pilatos... – replicou o outro debatedor.
A reprimenda do desafeto arrancou alguns risinhos da assistência, mas não fez o Sebastião perder o rebolado. Mostrando toda sua rapidez de raciocínio, saiu-se com essa:
- E Vossa Excelência, por acauso, tá insinuando que Herodes não lavava as mão?