segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Entre sombras e mocinhos

Minha mãe foi uma contadora de histórias de mão cheia. Dizem que puxei a ela. O irmão caçula, advogado e PM, até me chama de Forrest Gump... Não sei se é elogio ou apenas o seu jeitão de polícia mesmo que não gosta de muita estória. A verdade é que desde criança li muito. Toda coleção de livros de faroeste do pai. As histórias eram muito parecidas, a começar pela descrição do “mocinho” – ombros largos, olhos acinzentados, beirando os dois metros de estatura – mas eu as devorava.
Uma vez, num encontro de família, e sem televisão – que na época era coisa de rico – minha mãe e nossas tias mandaram que fôssemos pra cama logo depois da janta que elas queriam conversar coisa de gente grande. A cama eram alguns colchões distribuídos pelo chão de um dos quartos para acomodar eu e meus primos. Como protesto, fizemos uma guerra de travesseiros daquelas. Em represália, uma tremenda bronca e a indiscutível ordem de apagar a luz, dada com uma cinta na mão.
Fiquei quieto. Tinha um livrinho... Acendi uma vela e me deliciei com M. L. Estefania, meu autor predileto naquele tempo. Devorei, no lusco fusco, as 126 páginas de Estranho forasteiro. A leitura quase no escuro iluminava a imaginação. – Teus olhos vão sentir quando fores adulto! – muito me alertou a mãe. Entrava por um ouvido e saía pelo outro.  Aqueles bolsilivros marcaram a minha vida. Ler no banheiro fez com que adquirisse hemorróidas, hoje sob controle... Ler a luz de velas, que há anos usasse óculos para conseguir ler. Por que não escutei os conselhos da mãe?  

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