segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O fio de cabelo

O relacionamento ia bem até a descoberta daquele fio de cabelo.
- E esse fio aqui? – interroga a mulher.
- Fio? Que fio?
- Este aqui, ó! – berra ela, com o fio longo e loiro entre o indicador e o polegar.
- E eu que vou saber. Sei lá de fio... – retruca ele, impaciente.
- Pelo menos da dona do fio você deve lembrar... – alfineta a esposa.
- Mas que dona, que fio. Pára com isso, mulher!
Pronto. Armou-se a maior confusão. E o pior é que ele nem sonhava quem seria a dona daquele (maldito) fio de cabelo. “Bem que ela poderia existir, já que estou me incomodando tanto”, pensou, cabisbaixo.
- Isso tá me cheirando a sacanagem. E das grandes – voltou ela a insistir.
- Mas que bobagem! Você sabe que eu nem gosto de loiras...
- Não gosta, é? E a Silvana?
- Quem?!
- Você ouviu muito bem. Silvana, Silvana – repetiu a esposa, num pé só.
- Não acredito que você ainda lembra da Silvana. A gente ainda era namorado...
- Não tenta me enrolar que até hoje eu não engoli aquela história!
- Mas faz mais de vinte anos...
- Pra mim é como se tivesse sido ontem. Não esqueço e nunca vou esquecer...
O marido sentiu que era melhor calar. Não sabia nada daquele fio de cabelo, nem tivera nada com a Silvana. “Bem que eu tentei, mas ela...”.
Os pensamentos foram interrompidos pela voz da mulher que, teimosamente, insistia em saber a procedência do tal fio loiro, agora já grudado no espelho com esparadrapo para não se perder, como se fosse a prova do crime.
- Dessa vez você não escapa! Te peguei com a boca na botija... – dizia ela em voz alta.
- Mas que inferno! Já te disse que não sei nada desse fio de cabelo. Talvez seja de uma das meninas...
- Você bem sabe que suas filhas são morenas!
- Não sei mais o que dizer, mulher!
- Então fica quieto. Quem cala consente...

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