quinta-feira, 1 de julho de 2010

O arsenal do tarado

A vinheta característica de notícia extraordinária chamou minha atenção. Aumentei o volume do rádio. O comunicador jovem chamava, ao vivo, o repórter policial. Pedi silêncio às minhas filhas que, já há algum tempo, discutiam sobre uns novos passos de Axé. Uma dizia que a saída era para a direita e a outra defendia o contrário. Estavam a ponto de brigarem.
- A Puliça civil prendeu agora há pouco um homem qui tentô atacá uma minina di oito anus – dizia a voz do repórter. – O tarado levou a menor prum matagal i quasi conseguiu concretizá o estrupo – complementou o afobado radialista falando direto da “cena do crime”.
Nesse momento, o locutor do estúdio tentou sutilmente dar uma remendada no vocabulário do repórti.
- Mas, fulano, qual é mesmo o nome do acusado de estupro?
- O estrupador – respondeu de pronto – é um vagabundo que atende pela alcunha de Tiozinho. E esse tal de Tiozinho já tem passagi pela Puliça por porte de tóchico...
- Muito bem – reassumiu o comunicador do estúdio com a clara intenção de acabar com aquele besteirol todo. – Estas foram as informações do nosso sempre atento repórter Fulano de Tal...
Mas o repórter não queria parar. Emocionado com o "elogio" voltou à carga:
- E issu não é nada! Na casa do estrupador a Puliça encontrou um verdadeiro arsenal de revista pornográfica e um revólvi calibrio 38...
Não agüentei e desliguei o rádio, sob o protesto de minhas filhas que, àquela altura, estavam adorando o palavreado do repórter.
- Ah, pai... Tava tão divertido... Melhor que o Axé...

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