terça-feira, 22 de junho de 2010

O dono da voz

A voz ao telefone despertou minha curiosidade. Queria informações sobre uma entrevista que eu fizera no Rede Notícias, programa jornalístico que apresentei por quatro anos na FM Ilha do Mel. Tirei suas dúvidas, sempre atento àquela voz. Ao final, não me contive e perguntei se ele, com aquele timbre maravilhoso, não pensara em trabalhar em rádio. Modestamente, respondeu-me que já havia se aposentado no rádio e que, por muito tempo, fora conhecido como “A Voz”. Desliguei o telefone e fiquei pensando nas centenas de moçoilas que deviam suspirar cada vez que ouviam aquela voz na Difusora. Afinal, Airton Poli trabalhou na época áurea do rádio, quando radialista era que nem artista de cinema ou cantor de pagode hoje em dia.
Chegado há pouco na cidade eu não reconhecera A Voz. Com o passar do tempo, fortalecemos uma amizade que conservei com orgulho. Costumava brincar com ele.
- Com meu peito e com sua voz, o Cid Moreira estaria desempregado há muito tempo...
- Bondade sua – respondia modestamente. – A sua voz também é bonita...
- Mas nem chega perto da sua...
- Não fale assim. Você me deixa encabulado...
- É verdade, Airton. Você nunca pensou em ir para um grande centro?
- Olha, pra falar a verdade, acho que me apaixonei por Paranaguá desde que aqui cheguei.
E era verdade. Natural de Guarapuava fincou raízes na cidade bem novinho e não mais quis sair.
- Rádio já foi minha diversão. Agora são elas – afirmava, entre um cafezinho (com leite) e outro, com os olhos voltados às mulheres que passavam na Faria Sobrinho.
Infelizmente, esse ano, o Dono da Voz nos deixou, aos 75 anos. A foto é de minha coleção particular e foi tirada no Café do Português.

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