quinta-feira, 17 de junho de 2010

Os jovens e a política


A pergunta, feita à queima-roupa, tirou-me da leitura e provocou uma reunião, aos moldes da Grande Família.
- Em quem você votou, pai? – interrogou-me a filha de 17 anos.
- Eu? No Lula, é claro.
- Você votou no Lula mesmo?
- Eu sempre votei no Lula...
- Mas você... Não entendo... Deixa pra lá...
- Não, pára aí. Termina o que você começou...
- É que você tava reclamando, parecia que você não gostava dele...
- Eu não gostar do Lula? Olha, minha filha, até emprego eu já perdi por causa do Lula...
- Conta, pai...
- Foi há muito tempo, depois que eu liderei uma passeata de ‘caras pintadas’...
- Que quié isso? – perguntou, num acesso de riso.
Não agüentei e também ri como louco.
- Agora chega – recomecei a conversa. - Por que você acha que eu não gosto do Lula?
- Não senhor! Primeiro você vai me contar essa história de cara pálida...
- Não é pálida. É pintada...
- Então conta, vai...
- ‘Caras pintadas’ eram os jovens que defendiam mais ética na política, queriam mudar as coisas...
- E você andava na rua com a cara pintada? De quê?
Minha mulher, que acompanhava a conversa de longe, gritou:
- De palhaço!
- Que nem você... – retruquei.
- Mãe! Você também?!
- Claro, né? – respondeu ela, juntando-se a nós. – Eu também participei...
Nessa altura, nosso diálogo já se transformara numa reunião familiar. Até a filha menor havia parado de dançar e se interessado.
- O que vocês tão falando? – quis saber, risonha. - O pai trabalhou de palhaço?
- Que palhaço, menina! Onde já se viu? Pega o ônibus andando e ainda quer janela?
- Que ônibus? Nós vamos viajar?

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